
“Talvez seja hora de juntar todos os papéis avulsos que me pertencem e deixar que algumas daquelas palavras sejam levadas pelo vento”; essa é uma das últimas frases que me recordo ter vindo dela.
A chuva não cessava, os encontros pareciam cada vez mais fugazes e aquelas lembranças que tinham o inebriante poder de elevar-me e atravessar-me a alma em milésimos de instantes tornavam-se cada vez mais constantes em mim.
Como poderia algo que te faz tão bem ter tanta intensidade de modo contrário?
Deveria ser por volta das três da manhã quando cheguei em casa. Bem, pelo menos creio que tenha sido essa a marcação do relógio de cabeceira da última vez que o vi. Havia saído naquele sábado; com muita insistência de uns amigos e um leve grau de motivação forjada. Tínhamos combinado de visitar um novo bar da vizinhança. Um lugarzinho do qual todos haviam tirado boas impressões. Se eu já não estivesse tão entregue à necessidade de variar o tédio por fagulhas de poesia, teria preferido o aconchego dos meus livros àquela mesa comum de bar, lotado de pessoas que te observam e parecem te sugar os pensamentos como se não tivessem seus próprios; pois bem, não com pouca relutância, fui. A música não era das piores e o vinho, esse foi um bom companheiro, em cristal que embriagava mais a pupila que o próprio paladar. Conversa vai, conversa vem, mas, havia algo naquele local que me atraia mais que de costume.
A princípio não havia a mínima possibilidade de contato, em segunda estância, mantive meus olhos no canto daquela mesa como um soldado venera a pátria e entrega seus sonhos por ela; logo depois decidi que seria melhor manter-me quieto, afinal, independente do que ocorresse, eu, o velho utópico de sempre, preferia não ter a eminência do contato, mas, converter dentro de mim a certeza de que ao menos por um dos cinco sentidos, aquele era o princípio de paraíso que sempre havia procurado em minhas páginas mal rascunhadas. Comecei a ir com maior frequência aos encontros com os amigos. Uns até me interrogavam pelo motivo da minha mudança repentina, eu, apenas sorria.
Na verdade, continuava a pessoa de sempre, sem ao menos ousar abandonar o casulo, porém, fascinado com a descoberta de uma fresta pela qual enxergava centímetros do mundo e esses mesmos centímetros incumbiam-me à certeza de que por tão sublime fixação valeria a pena correr os riscos e deixar minha proteção casular, constante, companheiro de tempos carentes, para trás. Tornei-me apaixonado pelos vinhos daquele bar e turista errante daqueles olhos que me fitavam com graça demasiada, a noite inteira.
O tempo se passou, ambos nos distanciamos, mas, nunca esquecerei como aquele olhar oferecia-me mais conforto que qualquer um daqueles meus exemplares em brochura.
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Chuvas depois, devaneios; lembranças e a certeza de que naquele intervalo de tempo criado entre ambos, tudo podia ser explicado do modo mais simples e sincero possível. O instante de versos livres, de paixão pronunciada, mas, com toques diferentes, singelos toques que transpassavam as palavras; o olhar. O olhar era o único elo que brindava os sentimentos naquele breve segundo em silêncio - e ambos sabiam que seria uma das únicas coisas a ser lembrada depois de tantos invernos.
Só queria saber onde entra a questão ‘crença’ nessa história toda.
ResponderExcluir{se não encontrar aquele diplomata rico, pelo menos tem uma admiradora, me liga, bjos ;*}
ResponderExcluiradorei *--*
Camila.
Pode deixar. Eu tenho teu número em alguma das minhas gavetas e ainda sou esperta.
ResponderExcluirAssino com um beijo.