Ela era a delicadeza proferida, sei bem disso. Exalava carisma e aroma de baunilha; mesmo para mim, que nunca foi adepto das fragrâncias mais fortes. E nesse eclipse prenunciado, acabei encantado pela singularidade da coisa.
Do dia em que a conheci, não há muito que debater, éramos duas almas perdidas, viajando sob o mesmo céu, perseguindo sonhos diferentes e sem querer, nos esbarramos fundindo cada pólo do que eu costumava chamar devaneio.
Tudo bem, tentarei ser mais explícito: Eu a procurava desde a gênese desse mundo, mas, ainda não tinha me dado conta disso. É que já não sou mais o tipo sonhador que acredita ser possível encontrar Aquela pessoa dos seus sonhos na próxima ligação errada, muito menos num dia de chuva depois de perder todas as chances de um momento proveitoso; contudo, foi bem assim que nos ocorreu.
Sempre disseram que eu deveria garantir-me mais em relação aos meus trabalhos, mas, creio que eu seja a pessoa que menos Me leva a sério e isso, isso sim acaba tornando-se sério.
Pense comigo: Você tem um seminário extremamente importante, para o qual se preparou por mais de seis meses, os papéis estão completamente organizados, cada linha está impecável, mas, você não se garante. Acorda cedo demais, arruma tudo para a perfeição realizar-se e é tomado por uma tormenta de fatos. Não foi exatamente porque o avaliador desviou o foco do trabalho e colocou meu projeto – de vida – fora da corrida que eu acreditei em mim, a propósito, isso instigou um pouco mais meu ego hipo/hipo/hipo aguçado.
Mas, foi o modo como os fatos se deram depois daí.
Enquanto uma tormenta caia sobre a rua alagada e outra se pronunciava em minha mente por todo um semestre de trabalho atirado aos quatro ventos, encontrei uma vendedora de esperança.
Dizem que somos sempre um pouco menos do que imaginávamos, raramente, um pouco mais. Bem, ela estava plenamente enquadrada nessa raridade. Podia ser só mais uma menina que cruzou seu olhar ao meu sob o telhado de um bar enquanto a chuva dissipava suas últimas lamúrias, mas, sugou meus sentidos como nada dantes o fizera. Nos olhamos por um breve espaço de tempo até que ela aproximou-se e perguntou baixinho se a câmera que estava quase caindo da minha mochila não iria acabar molhando com os gotas de chuva. Ah, havia tanto o que dizer e tão poucas palavras me vieram.
– Você estava filmando algo? – indagou-me. Meu murmúrio não foi capaz de suprir a torrente de frases avulsas que surgiram em mim.
Diria tudo, diria que nada que eu pudesse filmar seria tão válido quanto um mero relance das suas feições de Hera.
Diria que toda a sequência de acontecimentos desestimulantes que sucederam-se em minha vida foram anulados a partir de um breve sorriso Seu - para Mim.
E por fim, mesmo depois da chuva dissipar-se, confessaria a ela, no mesmo sub tom, que passei a acreditar mais em mim, mais que nunca, mais que sempre, desde que ela esteve ao meu lado.
Mais um pro livro.
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