segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Do que somos nós - mujeres - pt. 2

Ouvia-se som ao fundo. Muito embora a grande maioria dos indivíduos que estiveram ali naquela noite já estivessem esvaindo-se, ela continuava serena, contida e tão imóvel quanto estivera desde que tomara posse do assento que ocupava. Era como um fragmento de perfeição que restara de todo o caos terrestre, fundindo-se àquela música numa cadência tão simples e bela que seria impossível as letras tomarem para si e recriarem em semelhante tradução.
Havia som ao fundo e no ar, uma necessidade absurda de declarações fraternas, dessas coisas que nos vem à cabeça sempre que temos alguém a quem devotamos extrema afinidade.
Havia som ao fundo e uma sonhadora portando uma garrafa meio vazia de bebida e um coração qualquer estendido sobre a mesa. [ Dali ninguém possuiria melhor descrição. ]
Até que a música fosse chegando ao fim e a menina que ocupava um dos últimos lugares visíveis do palco ainda continuasse presa àquele olhar distanciado. Era desses tipos comuns de menina, ou talvez, fosse tão comum quanto a melodia entoada naquela noite, mas, a única certeza que nos cabe é que ela continuava ali, muito embora houvesse som ao fundo. Ela continuava protagonista daquele ar singular do lugar e da cantora que insistia em não mudar o repertório.

Um comentário:

  1. Se o título fosse uma pergunta: 'Do que somos nós?', e seu texto fosse a resposta, eu arriscaria: solidão. Somos solidão na maior parte do tempo. O homem imerso no próprio mundo e carente de outros alguéns. Sua narrativa me mostrou isso, de forma clara. Foi bonito.

    Beijo!

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