terça-feira, maio 04, 2010

Desculpe, se te chamo de Amor

Era noite e não havia aonde ir. Procurou contatos, atrações, qualquer tipo de distração para aquelas próximas horas e nada o correspondia; sendo assim, pensou consigo que era melhor dar uma volta por ali.
Não demorou muito até que encontrasse um destino comum. Um daqueles barzinhos à meia-luz, cheirando aos seus anos dourados. Acomodou-se e olhou em volta.
Vozes; cores; sons; sabores; instintos à mil.
O vinho não era dos melhores, porém, talvez por esse mesmo motivo, as mulheres já não fossem das menos agradáveis. A noite trafegava sem a necessidade de ser percebida, exceto por um detalhe quase resvaldado: a moça que servia às mesas atraíra sua atenção; mesmo sem características relevantes. Era simplesmente uma dentre tantas meninas que ganhavam um dinheiro servindo mesas quaisquer. E como chamara sua atenção!

Esbaldava-se pronunciando baixando: 'she catched my eye, ooh, she did it', todas as vezes que se lembrava daquele momento.

Acrescentava porém que seus flertes não foram correspondidos, na segunda ou na terceira tentativa, mas, sabemos muito bem como são os românticos, eles nunca desistem, e assim, conseguiu aproximar-se, pedindo mais uma garrafa de vinho, uma água sem gás e uma compainha amiga para delirar junto a si. Ela assustou-se de ímpeto. Obviamente já estava acostumada a ser cortejada por vários senhores solitários, homens descabidos, tal que às moças de dona DonDon, contudo, mesmo naquele tipo de situação, nunca fora das mais destemidas e corou ao instante.
-Ei, não há porque ficar assim. Os tempos podem não ser dos melhores, mas, ainda assim, a vida é belíssima. Posso afogar meus delírios em mais uma taça de vinho, só que ainda adoraria a sua compainha, mesmo que fosse para resplandecer essa luz fosca no seu sorriso.

Mordeu os lábios.

Tivera aquele jeito nato de apreciador de belas damas, porém dificilmente colocava em prática - para valer - seus deletérios.
Talvez tenha dado sorte.

Os dias se foram e ele já não conseguia pensar em outros olhos, em outras pernas que não as dela. Acordava feliz em meio à previsão de um longo dia de trabalho, acordava sentindo seu cheiro meio doce pelo ar.
Ah, como deixara aquilo acontecer? Como pudera largar-se tanto de si mesmo? Não pudera. Ela era ele agora. E já não importava, os afins.

Ela adorava suas palavras difíceis. Seu café corrido. Suas camisas azuis. E desde a primeira vez em que ele se atreveu a dizer que a amava, ela pronunciou o mesmo sorriso entreaberto e mordeu os lábios, tal qual naquela noite.
Já era sua, porém ele nunca soube o que era ser dela.
Ensinou-a aquelas palavras bonitas, assim como ela o ensinou a amar e que precisavam ser livres para estar plenos, mas, ele só compreendia seus sorrisos descabidos, nada além disso.

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